É impressionante perceber que o uso de smartphones em sala de aula segue um tema controverso ainda hoje. Os dispositivos eletrônicos, como smartphones e tablets, seguem como vilões responsáveis por capturar a atenção dos alunos dentro da sala de aula e impactar negativamente no aprendizado. Sem o devido direito de resposta, os smartphones foram considerados culpados e expulsos do ambiente escolar. A distopia se transformou em legislação.
A Lei 12.730/07 de SP estabelece que "Ficam proibidos de utilizar telefone celular nos estabelecimentos de ensino do Estado, durante o horário das aulas". Esse não é uma exclusividade do estado de SP. A maior parte dos estados brasileiros possui legislações que proíbem o uso de smartphones dentro da escola.
Muitos estados, como RJ e PE, chegaram ainda a adotar legislações que preveem distância mínima entre lan houses e escolas. A Lei 4.996/09 do RJ estipula que “Fica proibida a localização de casas de jogos de computadores e similares que também utilizem o acesso à internet e programas e jogos eletrônicos em rede, a uma distância de 300 metros das unidades de ensino público e privado no município”. Além de controverso, essa determinação é inconstitucional. Essas legislações continuam vigentes até hoje.
O argumento utilizado em todos os cenários é basicamente o mesmo: "os dispositivos eletrônicos prejudicam a capacidade de atenção em sala de aula". O elemento central aqui é a atenção do aluno. A fonte de preocupação revela uma informação importante: as escolas estão inseridas na indústria da atenção. Mais ainda, a expulsão dos dispositivos móveis das escolas e a judicialização da disputa pela atenção dos alunos indica que a escola vem perdendo essa competição. Há um artigo complementar comparando a indústria de livros com a indústria da atenção - vale a pena a leitura para expandir a visão sobre a indústria da atenção e seus impactos.
Mesmo proibido na maioria das escolas do país, o uso dos smartphones em atividades pedagógicas seguia crescendo mesmo antes da pandemia. A migração para o ensino online acelerou a transformação digital. Os smartphones, que já eram o principal dispositivo de acesso à internet no Brasil, também se tornaram a principal ferramenta de estudo durante a pandemia. As malsucedidas tentativas de controle no uso de dispositivos móveis realizadas dentro das escolas tornaram-se inócuas no ambiente de ensino online e híbrido. Os vilões de outrora retornaram como heróis para apoiar na manutenção do ensino em tempos pandêmicos.
A volta dos dispositivos eletrônicos para dentro das salas de aulas, sejam elas presenciais ou online, deve permanecer como realidade mesmo após a pandemia. A maioria das pesquisas de tendências apontam para a migração dos modelos tradicionais de ensino 100% presenciais para modelos híbridos de coexistência entre as aulas presenciais e online. Associado ao ensino híbrido, o 2020 Educause Report, uma das principais pesquisas de tendências do setor, indica ainda uma série de tecnologias e práticas que terão impacto significativo na educação dentro dos próximos anos (ver imagem abaixo).
Essa retomada do uso da tecnologia nas escolas deve ser acompanhada de uma ampla e franca discussão sobre ATENÇÃO. É importante ultrapassarmos os estágios do modelo de Kübler-Ross de Negação (proibição dos dispositivos eletrônicos), Raiva (judicialização do uso de smartphones nas escolas) e Negociação (uso limitado dos smartphones na sala de aula) para avançarmos para o estágio de Aceitação. Esse estágio deve incluir a aceitação de que a escola está inserida na indústria da atenção e compete com todas as demais soluções que demandam atenção das novas gerações. A lista de competidores é extensa e vai além dos serviços indicados na imagem abaixo.
Esse processo de aceitação da existência de uma competição pela atenção dos alunos como raiz do problema da falta de engajamento dos alunos permite a busca de uma solução real. Em sua essência, a aceitação nos leva à aplicação da Análise da Causa Raiz para buscar soluções adequadas para a raiz do problema e evitar novamente a aplicação de soluções simples (proibição de smartphones) para sintomas (redução na capacidade de atenção). A busca por soluções reais (maior engajamento dos alunos) para problemas reais (disputa pela atenção do aluno) envolvem uma ampla análise de como os estudantes das novas gerações consomem conteúdo (ex: entretenimento, esportes, filmes, jogos digitais), socializam e aprendem. Em outras palavras, é necessário aproximar os processos e práticas de ensino das escolas à cultura das novas gerações (Alpha e Z). Pensando nisso, nós criamos um e-book exclusivo chamado "The Multiverse Effect: Compreendendo as novas gerações de estudantes". Esse material estrutura dados de múltiplas fontes para auxiliar no processo na compreensão das novas gerações e servir como referência para construção de soluções [digitais] adequadas.
Nesse e-book você encontra os seguintes destaques:
1. As gerações Alpha e Z
2. A indústria da atenção e o impacto na educação
2. Os contrastes das gerações (Millenials x Alpha)
3. Hábitos de consumo [digital] da geração Alpha
3.1 Tempo de Tela
3.2 Acesso à Smartphone
3.3 Consumo de Internet
4. Hábitos de entretenimento da geração Alpha
4.1 Filmes e séries
4.2 Esportes (+Esports)
4.3 Jogos Digitais
4.4 Redes Sociais
5. As redes sociais do futuro (Multiversos)
6. Como as escolas podem concorrer na indústria da atenção
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